É uma coisa estranha este verão

E no entanto ia jurar que estive aqui

Não me dói nada, não. A tia como está?

Claro que vale a pena, por que não?

Sim, sou eu, devo sem dúvida ser eu

Podem contar comigo, eu tenho uma doutrina

Não é bonito o mar, as ondas, tudo isto?

Até já soube formas de o dizer de outra maneira

Há coisas importantes, umas mais que as outras

Basta limpar os pés alheios à entrada e só mandarmos nós neste templo de nada

E o orgulho é a nossa verdadeira casa

Nesta altura do ano

quando o vento sopra sobre os nossos dias, sabes quem gostava de ser?

Não, cargos ou honras, não.

Um simples gato ao sol, talvez uma maneira ou um sentido para as coisas

...

Ó dias encobertos de verão no meu país perdido …

...

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que importa, se o verão mesmo é uma certa estação?

Escolhe inscreve-te pertence, não concordas que há cores mais bonitas do que outras?

Sou homem de palavra e hei-de cumprir tudo

hão-de encontrar coerência em cada gesto meu…

Há fórmulas, bem sei, e é preciso respeitá-las

como o gato que cumpre o seu devido sol…

Vais assim. Falam de ti e ficas nas palavras

fixo, imóvel, dito para sempre, reduzido a um número.

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Acreditas no verão? Terás licença?

Diz-me: seria isto, nada mais que isto?
Tens um nome, bem sei. Se é ele que te reduz, aí é o inferno e não achas saída

Precário, provisório é o teu nome…
Que fica dos teus passos dados e perdidos?

Horário de trabalho, uma família, o telefone, a carta,o riso que resulta de seres vítima de olhares

Que resto dás? Ou porventura deixas algum rasto?


Ruy Belo

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